Cartilagem do Joelho

PRINCIPAIS LESÕES

O que é a Cartilagem do Joelho?

A cartilagem do joelho é a camada que recobre a superfície das articulações e que permite o deslizamento sem atrito entre os ossos. Sendo assim, a cartilagem do joelho recobre por dentro as superfícies dos ossos do fêmur, tíbia e patela (rótula). Em contraste com o osso, a cartilagem é menos dura, porém é muito firme e resistente. Isso torna ela capaz de resistir aos impactos sofridos pelas articulações ao longo da vida. 

Entretanto, se por algum motivo exista algo que leve ao desgaste da cartilagem do joelho, temos um problema sério pela frente. Isso porque, a capacidade de regeneração da cartilagem é muito pequena, pois quase não chega irrigação sanguínea nela. Enquanto que os ossos possuem boa capacidade de se regenerarem após as fraturas, a cartilagem que se lesiona não volta a ter a mesma qualidade de antes, após uma lesão ou desgaste. Sendo assim, os fatores que podem levar ao desgaste da cartilagem são:

  • Traumas ou contusões
  • Inflamação das articulações, como em doenças como artrites, artrose, gota, etc.
  • Excesso de sobrecarga nas articulações. Por exemplo, devido obesidade, ou esportes de alto impacto. 
  • Imobilização prolongada para tratamento de fraturas ou lesões de ligamentos, por exemplo. 

Por fim, esses problemas podem levar a danos muito sérios levando ao desgaste da cartilagem e possível evolução para artrose.

Quais os graus da Lesão da Cartilagem do Joelho?

Com relação aos graus de lesão da cartilagem do joelho, podemos dividi-las em 4 graus. Sob esse ponto de vista, quanto maior o grau da lesão de cartilagem, mais “gasto” ela está:

  • Grau 1: amolecimento da cartilagem. O tecido da cartilagem está bom, mas perdeu um pouco da sua firmeza.
  • Grau 2: menos de 50% da superfície da cartilagem foi “gasta”.
  • Grau 3: mais de 50% da superficie da cartilagem foi “gasta”.
  • Grau 4: o mais grave. Nesse caso, toda a superfície da cartilagem foi “gasta” atingindo o osso que está embaixo dela. É como se o pneu do carro estivesse totalmente gasto chegando, ficando destruído até aparecer a roda.

Tipos de lesões da Cartilagem do Joelho

Basicamente, existem três tipos de lesões de cartilagem:

  1. Primeiramente, aquelas causadas por trauma (contusão, pancada, torção). Geralmente, ocorre em pessoas mais jovens. Nesse caso, podem vir acompanhadas por outras lesões, como de meniscos e ligamentos do joelho. Ocasionalmente, causam lesões bem localizadas cartilagem do joelho, ou seja, em um ponto só da cartilagem, sem estarem muito espalhadas.
  2. Em segundo lugar, estão as lesões degenerativas, que ocorrem devido impacto de longa duração e repetitivo. Geralmente ocorrem em pessoas mais idosas causando lesões grandes e mais “espalhadas” pela cartilagem. Em última análise, são aquelas lesões que precedem o aparecimento de artrose.
  3. Por fim, são as lesões devido à alguma outra doença da cartilagem ou uso de algum medicamento por tempo prolongado. Por exemplo, a osteocondrite dissecante do joelho que é uma doença que acomete crianças e adolescentes.

 

Como resultado, a gravidade da lesão da cartilagem está relacionada à profundidade e ao tamanho do desgaste. Dessa forma, as lesões da cartilagem mais superficiais (grau 1) são as únicas que podem se regenerar. Por isso, tem um melhor prognóstico, ou seja, costumam resolver completamente. Já as lesões da cartilagem mais profundas (grau 2, 3 e 4) não costumam ter a capacidade de regeneração. 

Tratamento conservador das lesões da cartilagem do joelho

Em princípio, indicamos o tratamento conservador (sem cirurgia) das lesões da cartilagem do joelho em quase todos os casos. Tal tratamento, traz bons resultados através da fisioterapia e fortalecimento muscular. Além da fisioterapia e reabilitação muscular, existem outras opções de tratamento não cirúrgico para lesões de cartilagem:

  • Primeiramente, através de medicamentos: usamos os colágenos tipo 2 para lesões de cartilagem do joelho para melhora da dor. No entanto, é importante lembrar que esses medicamentos não recuperam a cartilagem, mas podem trazer alívio da dor. Clique aqui para saber mais sobre os colágenos tipo 2.
  • Outra opção muito interessante é a infiltração com ácido hialurônico no joelho.   Clique aqui para saber mais sobre esse tratamento.

Por fim, caso o tratamento conservador não funcione bem após 6 meses, podemos indicar cirurgia. A seguir, vamos ver melhor as indicações da cirurgia para tratar a lesão da cartilagem do joelho.

Tratamento Cirúrgico das Lesões da Cartilagem do Joelho

Indicamos o tratamento cirúrgico das lesões da cartilagem do joelho nas seguintes situações:

  • Desgaste de cartilagem grau 3 e 4 que sem melhora com fisioterapia, medicamentos e infiltração. Ou seja, quando o tratamento não cirúrgico falhou.
  • Para lesões grandes e instáveis. Ou seja, aquelas lesões que estão prestes a soltar dentro do joelho. Por exemplo, crianças e adolescentes com osteocondrite dissecante do joelho.
  • E por fim, corpos livres soltos de cartilagem dentro do joelho. Nesse caso, podem levar ao bloqueio do movimento do joelho, causando muita dor e outras lesões da cartilagem devido ao efeito “quebra nozes”. Como consequência, pode haver o pinçamento do pedaço de cartilagem solto dentro do joelho causando outras lesões.

Dessa maneira, existem várias cirurgias para tratar lesões da cartilagem do joelho. Devido à baixa capacidade de regeneração da cartilagem, nenhum desses procedimentos são capazes de restaurar para uma cartilagem normal. Porém, o objetivo principal da cirurgia para esses casos é a melhora dos sintomas de dor, diminuição do inchaço e melhora do funcionamento dos joelhos. 

Microfratura

A microfratura é uma cirurgia que podemos indicar para lesões de cartilagem menores, geralmente de até no mâximo 2,5cm2. Através desse procedimento, fazemos várias perfurações no osso que fica abaixo da cartilagem desgastada. Com isso, estimulamos a liberação de fatores de dentro do osso que levam a formação de um tecido parecido mas não igual a cartilagem, que chamamos de fibrocartilagem (figura acima). Como resultado, apesar de não restaurar a cartilagem, há melhora expressiva dos sintomas de dor relacionados à lesão da cartilagem. 

Mosaicoplastia

Como o próprio nome diz, a mosaicoplastia é um procedimento que retiramos cartilagem normal de uma região do joelho que está sobrando cartilagem. Feito isso, usamos esse pedaço de cartilagem normal para preencher outra área que está com desgaste de cartilagem e que fica numa região mais importante do joelho (área de carga). Na prática, retiramos pedaços cilíndricos de osso com cartilagem (como mostra a figura abaixo) e vamos preenchendo os “buracos” defeituosos de cartilagem que causam dor.  Frequentemente, indicamos essa cirurgia quando existem defeitos únicos de cartilagem de tamanho médio, geralmente entre 1 e 2,5cm2. Ou seja, não é uma cirurgia que indicamos para lesões muito grandes ou muito numerosas da cartilagem.

Membrana de colágeno (técnica AMIC)

A técnica com o uso da membrana de colágeno é relativamente recente no Brasil. Normalmente, indicamos esse procedimento para tratar lesões de cartilagem maiores do que indicamos para a mosaicoplastia. Ou seja, lesões maiores que 2,5cm quadrados. Os passos desse procedimento são:

  • Primeiro, identificar o buraco na cartilagem e “acertar” as bordas do buraco. 
  • Segundo, fazer uma microperfuração no osso que fica na base do buraco da cartilagem. Como consequência dessa microperfuração, liberamos fatores que estimulam a “cicatrização” da cartilagem.
  • Por fim, “tampamos” o buraco com uma membrana de colágeno que serve para segurar melhor esses fatores que aceleram a cicatrização da cartilagem no local.

Dessa maneira, com esse procedimento, acreditamos que a cicatrização da cartilagem ocorre com a formação de um tecido de melhor qualidade. Isso porque concentramos melhor os fatores de dentro do osso que ajudam a cicatrizar a cartilagem. 

Transplante

Transplante de cartilagem  é um procedimento que ainda empregamos muito pouco no nosso país, porém é muito promissor. É uma cirurgia de salvação que indicamos para lesões extensas de cartilagem em pessoas jovens ou meia idade. Em contraste com outras técnicas, transferimos uma porção de cartilagem de um doador não vivo para o paciente que tem um desgaste muito grande da cartilagem, geralmente maior do que 4cm2.

Por ser originário de um doador não vivo (cadáver), são necessários uma bateria de exames para ter certeza que o doador esteja em perfeito estado de saúde. Com isso,  evitamos a transmissão de doenças e infecções para o paciente que recebe transplante. Além de ter que esperar a disponibilidade de um doador compatível, só podemos realizar esse procedimento em hospitais de altíssima complexidade. Por exemplo, aqui na capital do Estado de São Paulo, são poucos hospitais com infra-estrutura que permite realizarmos esse tipo de cirurgia.