Quais as lesões mais frequentes relacionadas ao ciclismo? E como preveni-las?

Sem dúvida que pedalar é uma atividade física excelente. Se você quer ter um estilo de vida saudável e bons hábitos, nada melhor do que escolher esse esporte para começar. Segundo estudos publicados no assunto, entenda alguns dos benefícios da prática do ciclismo:

– Primeiramente, fortalece bastante os músculos das nossas pernas, coxas, região dos glúteos e Core abdominal e lombar.

– Diminui a dor e melhora capacidade atlética em pacientes com artrose do joelho. (Luan L 2020 et col).

– Melhora o bombeamento do nosso coração e a capacidade de oxigenação dos pulmões (Oja P et col 2011).

– Diminui o risco de doenças o coração e dos vasos sanguíneos do nosso corpo (como por exemplo, pressão alta, derrame cerebral, infarto do coração) (Oja P et al 2011).

Ciclismo e o risco de lesões

Entretanto, como todos os esportes, pedalar também não é uma atividade totalmente isenta de riscos para nosso corpo… Mesmo sendo um esporte de baixo impacto para as articulações, ele também é extremamente repetitivo. Só para se ter uma ideia, os ciclistas fazem cerca de 4.000 rotações/hora de pedal de intensidade moderada. Por isso, as lesões por esforço repetitivo também acontecem com uma certa frequência no ciclismo.

 

E para falar melhor disso, eu vou usar um estudo publicado no ano passado que avaliou nada menos que 22.000 ciclistas não profissionais. Nesse estudo, os autores buscaram entender a ocorrência de lesões por esforço repetitivo e de inicio gradual, sem contar aquelas por lesões traumáticas por acidentes ou quedas… 

E o que esse estudo em ciclismo encontrou de interessante?

Tal estudo mostrou estatísticas bem interessantes sobre as lesões relacionadas ao ciclismo. Em relação a qualquer tipo de lesão, o estudo encontrou que 2,5% dos ciclistas se lesionam a cada ano. Ou seja, 1 a cada 35 ciclistas. Não é muito, mas para serem consideradas lesões, esse estudo incluiu somente as que realmente interferiram na prática do esporte. Ou seja, dores que não atrapalham a performance dos atletas não foram consideradas no estudo.

– Também, a frequência de acometimento da lesão por região do corpo foi de:

-> 43% membros inferiores

-> 19,8% membros superiores

-> 11,5% região lombar (parte de baixo das costas)

-> 10,5% região genital e partes íntimas

Em relação aos tipos específicos de lesão, o estudo encontrou como mais frequentes, nessa ordem:

  • Dor na patela (osso da parte da frente do joelho) – 14,3% do total
  • Dor lombar baixa – 10,5%
  • Dor no ombro – 9,4%
  • Tendinite da banda iliotibial do joelho (inflamação de um tendão da parte externa do joelho). 8,5%
  • Dor na articulação dos quadris – 4,7%
  • Dor cervical (região do pescoço) – 4,3%
  • Dor muscular glútea e partes mais íntimas (que ficam em contato com o selim) – 3,6%
  • Tendinite de Aquiles – 3,4%

 

Além de todas as lesões citadas, tem muitas outras, mas parei por aqui pois a lista é bem extensa.

E como prevenir as lesões no ciclismo?

Sem dúvida, as estratégias para prevenção de lesões são muitas no ciclismo.

Então, vamos a alguns exemplos dessas estratégias para prevenir essas lesões:

 

– Inicialmente, é claro, o uso de equipamentos adequados como, por exemplo capacetes, roupas com proteção, uso de luvas, sapatilhas adequadas, óculos de proteção.

 

– Certamente, como uma das principais estratégias são os exercícios de fortalecimento e alongamentos preventivos. Especialmente treinos que fortalecem a musculatura dos glúteos, musculatura da parte da frente da coxa (quadríceps), da parte de trás da coxa (isquiotibiais), CORE abdominal e lombar. O trabalho de alongamento e mobilidade das articulações dos joelhos, tornozelos e quadris também é muito importante.

 

– realizar intervalos adequados de descanso. Isso porque o excesso de treino atrapalha a recuperação da musculatura aumentando a chance de lesões por sobrecarga.

 

– aumento gradual de treino, ou seja, não querer dar “passos maiores que as pernas”. Isso significa, aumentar aos poucos a distância e ritmo do pedal. Em outras palavras, evitar pedalar distâncias e em ritmo que não esteja acostumado. Como regra geral, aumentar por volta de 20% por semana, no máximo, a distância de treino.

E qual a importância do bike fit para o ciclismo?

Certamente, o bike fit merece uma seção à parte dado sua grande importância para quem quer levar à sério o ciclismo. Na prática, significa adequar o nosso corpo à bicicleta que a gente usa.  Nesse sentido, o objetivo do bike fit é tanto de melhorar o rendimento no esporte, como o de diminuir o risco de lesões.

 

Sendo assim, o especialista em bike fit vai fazer diversas medições no seu corpo e bicicleta, e com isso, propor uma série de modificações para alcançar a sincronia ideal do corpo do ciclista com a bicicleta. Como exemplo de possíveis intervenções do bike fit na sua bicicleta, temos:

 

– a altura, o recuo e a inclinação do selim (segundo estudos, a posição ideal do selim é a característica mais importante que influencia no risco de lesões e dores)

– a posição e distância do guidão

– comprimento da manivela

– tipos de pedal, manopla, entre outros

 

Além disso, os especialistas em bike fit orientam a postura mais adequada do nosso corpo durante o ciclismo. Com isso, evitamos vícios posturais que aumentam a chance de lesões e dores no corpo. Por exemplo, existem estudos que mostram que a projeção da dos joelhos para dentro enquanto pedalamos, pode aumentar o risco de dor nas articulações dos joelhos. Nesse caso, o melhor é manter os joelhos retos ou levemente para fora

Orientações finais

Por fim, o melhor é consultar um especialista da área que entenda do assunto.  Seja você iniciante ou um aficionado pelo esporte, procure um especialista em bike fit e, caso tenha tido alguma dor ou lesão, um ortopedista para avalia-lo(a).  Me conte aqui nos comentários se gostou do artigo! Também fico à disposição para dúvidas e comentários !

Referências

  1. Bini RR et col. Potential factors associated with knee pain in cyclists: a systematic review. Bini RR et col. Open Acess J Sports Med. 2018; 9: 99–106.
  2. Differences in pedalling technique between road cyclists of different competitive levels. Journal of Sports Science. López GJ. 2016
  3. Epidemiology, clinical characteristics and severity of gradual onset injuries in recreational road cyclists: A cross-sectional study in 21,824 Cyclists. DuToit 2020. Physical Therapy in Sport.

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